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Ruth First, um tributo

     

 

Em 2013, foi atribuído, pela Universidade Eduardo Mondlane, o título de Doutoramento Honoris Causa em Sociologia à Heloise Ruth First, no aniversário de 31 de seu brutal assassinato, através de uma carta bomba enviada pelo regime do apartheid da África do Sul, ao seu local de trabalho. Vale ressaltar que Ruth First foi amiga de Eduardo Mondlane – que também foi assassinado quando abriu uma carta-bomba, em 1969, em Dar Es Salam, na Tanzânia -, e de Nelson Mandela, entre outros líderes africanos da maior relevância.

 

A professora Teresa Cruz e Silva fez a elegia à ativista política, jornalista acadêmica, nascida em Johannesburg, na África do Sul. O mortal ataque à Ruth First aconteceu em seu local de trabalho: o Centro de Estudos Africanos (CEA), onde era Diretora de Investigação. Três de seus colegas ficaram feridos com o ataque: os professores Aquino de Bragança, Bridget o’Laughlin e Pallo Jordan

 

Confira abaixo o discurso.

 

Nesta cerimónia simbólica carregada de rituais, coube-me a honra de apresentar, em memória póstuma, uma cientista social com indubitável reconhecimento universal, jornalista de renome e activista política, cuja vida foi dedicada à causa pública: Heloise Ruth First, mais conhecida como Ruth First.

 

Trinta e um anos depois do seu assassinato, no seu local de trabalho, o Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane, através de uma carta bomba enviada pelo regime do apartheid da África do Sul, o tempo não embrandeceu a violência da sua morte. Perdemos uma professora e uma pesquisadora de grande estatura, que conseguia reunir numa única pessoa a combinação de um feixe de qualidades difíceis de descrever, mas que aparecem reproduzidas no seu trabalho e nos seus escritos, como jornalista ou activista política, e na sua marca como intelectual orgânica, defensora de um projecto específico, onde o fim último era uma sociedade menos desigual e mais justa.

 

A memória ainda viva de Ruth First e da sua presença activa e sonante, assinalada pelo seu andar decidido pelos corredores do Centro de Estudos Africanos, e pelo vigor das suas ideias, encurtam a distância que separa o momento presente do seu desaparecimento físico. Marca-nos por isso ainda profundamente, a proximidade da sua imagem e das linhas do seu pensamento, particularmente em momentos como este, de homenagem, mas também de reflexão sobre o seu contributo para a produção do conhecimento.

 

Heloise Ruth First nasceu em Johannesburg, a 4 de Maio de 1925, tendo crescido numa família marcada pela partilha de permanentes debates políticos entre indivíduos de diferentes classes e raças. O roteiro familiar e a sua vivência durante a juventude marcaram de forma indelével a sua personalidade, e a sua prematura maturidade política.

 

Fez os primeiros estudos universitários na área de ciências sociais na Universidade de Witwatersrand, onde desempenhou um papel importante na criação do Progressive Students League, nos anos 1940. A vivência universitária combinada com a militância partidária, ao abrir-lhe mais janelas para um debate maduro e consequente, reforçou as suas convicções políticas e alargou os seus horizontes como activista pela causa da libertação da África do Sul e do continente. Entre os seus companheiros de universidade, contam-se nomes como Ismael Meer, Nelson Mandela, e Eduardo Mondlane. 

 

Muito jovem ainda, Ruth First abraçou a carreira jornalística tendo sido editora e figura de destaque de vários jornais, entre os quais: The Guardian (1946-1952); Clarion (1952); People´s World (1952); Advance (1952-1954); New Age (1954-1962), ou The Fighting Talk (1955). Como jornalista, First destacou-se pela publicação de artigos de crítica fina e incisiva, tendo dado notoriedade à segregação racial e às injustiças sociais que marcavam então uma África do Sul politicamente dominada pelo regime do apartheid, bem como a inúmeras denúncias sobre a situação laboral vivida pelos trabalhadores sul-africanos.

 

Em 1950, o Partido Comunista é banido. Entre os nomes da lista negra do governo, nessa ocasião, contam-se Ruth First e Joe Slovo seu esposo, que passam então a objecto de permanentes perseguições policiais. A sua vida familiar passa também a ser marcada por detenções, prisões, revistas policiais domiciliares, banimento político e por fim, o exílio. Os filmes e os livros posteriormente publicados por duas das suas três filhas, Shawn e Gillian, revelam as dificuldades e os choques que a sua intensa entrega política trouxe à estabilidade familiar.

 

À ordem de banimento político recebida por Ruth depois das suas visitas à então União Soviética em 1951 e à China em 1954, seguiu-se a sua detenção em 1956, juntamente com Joe Slovo. 

A década de 1950 marca uma intensa actividade de Ruth First e Joe Slovo, na luta contra o apartheid, assinalada por um crescente movimento de protestos, constando assim o seu nome entre os autores da Carta da Liberdade, elaborada em 1955. Para muitos estudiosos da sua vida e obra, os seus trabalhos jornalísticos dos anos 1950, cunhados por uma profunda análise sobre a situação sociopolítica na África do Sul e pela sua visão de uma ordem alternativa, constituíram uma base de reflexão para o trabalho realizado mais tarde, no Centro de Estudos Africanos, em Maputo.

 

A década de 60 é assinalada por barreiras cada vez mais pesadas para a esquerda sul-africana. Na mesma altura, a imprensa progressista é banida ou interditada, alguns jornais são forçados a encerrar as portas e os seus jornalistas impedidos de publicar. Neste contexto político, para Ruth, ia-se tornando cada vez mais difícil trabalhar na África do Sul. No entanto, nenhuma destas dificuldades, acrescidas às barreiras anteriormente postas pelo regime à oposição política a desencorajou, na sua luta por uma causa pública, tendo ela continuado firmemente envolvida com a clandestinidade, que neste período passou a acções de protesto de índole mais radical.

 

 

Uma nova ordem de banimento circunscreve ainda mais o seu espaço físico de circulação e de actuação profissional. Como ela mais tarde referiu sobre esta fase da sua vida, “encontrava-se num estado de morte civil”. Como forma de contornar as barreiras que o regime lhe impunha profissionalmente, Ruth passou da publicação de artigos em jornais para trabalhos investigativos mais profundos que a consagraram na escrita de análises sociais. Com grande engenho e sabedoria consegue complementar com brilhantismo a sua formação em ciências sociais com a sua maturidade jornalística. A sua obra, “South West Africa”, publicada em 1963, pela Penguin Books, é um dos marcos da pesquisa realizada nesta época. Tratava-se de um estudo pioneiro sobre a Namíbia, que nas palavras de Shula Marks se pode classificar como um dos melhores estudos sobre o Sudoeste Africano, sendo também um estudo histórico pioneiro com uma profunda análise política. Como era de esperar, o livro foi imediatamente banido.

 

Por esta altura, Ruth era uma das personalidades mais dinâmicas nos círculos do Congresso Nacional Africano (ANC), e figura central em todas as actividades.

 

Com o telefone sob escuta, a correspondência fiscalizada, uma permanente perseguição e a sua vida privada vigiada pela polícia, ela optou por manter as filhas em completa ignorância sobre as suas actividades políticas, como forma de as proteger.

 

Suspeita de cumplicidade na “Conspiração de Rivonia”, em Agosto de 1963, Ruth foi detida e aprisionada, depois de Mandela, Sisulo e outros companheiros do ANC, tendo permanecido 117 dias incomunicável, nas masmorras da polícia. Com Joe impedido de regressar ao país para evitar a sua eminente prisão, acompanhada de sua mãe e suas filhas, Ruth parte para o exílio, onde a família se reencontra no Reino Unido. Joe Slovo e Ronald Segal, editor da Penguin Books e seu amigo pessoal, levam então Ruth a escrever e a publicar as suas memórias de prisão, que deram origem ao seu conhecido livro “117 days”, que veio a lume em 1965, e foi reeditado depois da sua morte. Ronald Segal considera este trabalho uma das grandes obras-primas sobre escritos na prisão, onde os relatos de Ruth sobre os dias que passou na solitária, nos mostram a imagem de uma mulher extremamente corajosa e firme nos seus ideais e simultaneamente vulnerável como qualquer ser humano. 

 

No exílio, ela desencadeou uma luta anti-apartheid e fez campanhas a favor do ANC, tendo-se tornado uma oradora de renome. Aqui, continuou as suas actividades como escritora e editora, destacando-se entre os seus trabalhos: a edição e publicação com Ronald Segal de uma colecção de ensaios ”South West Africa: Travesty of Trust” (London, 1967); a edição de discursos de Nelson Mandela, de “The peasant´s revolt” por Govan Mbeki (trabalho iniciado na África do Sul) ou “Not Uhuru”, uma autobiografia de Odinga, para além de numerosos artigos jornalísticos onde se incluem análises sobre as lutas armadas de libertação que decorriam nos territórios de Angola e Moçambique.

 

Entre 1964 e 1968, Ruth desenvolveu um trabalho de pesquisa visando os estados africanos que haviam ascendido à independência nessa década, os golpes de Estado e as falhas das lutas pelas independências Africanas. O seu livro, “The barrel of a Gun”, produzido na sequência deste trabalho, foi visto por Ronald Segal, como “uma excelente análise sobre a génese e natureza dos regimes militares africanos” e considerado por Shula Marks como um trabalho profundamente crítico sobre as lideranças dos países Africanos durante a primeira década do período das pós-independências, sendo uma fiel ilustração do espírito crítico, coragem e integridade intelectual de Ruth.

 

Em 1972, Ruth centrou o seu trabalho na vida académica. Com o posto de investigadora na Universidade de Manchester onde ensinou sociologia da rebelião na África pós-colonial, desenvolveu um programa de pesquisa sobre o Coronel Kadafy na Líbia, que resultou na publicação da obra: “Libya, the Elusive Revolution”.

 

Do seu percurso no exílio consta igualmente o trabalho realizado para a Comissão dos Direitos Humanos das Nações Unidas.

 

Em 1973, Ruth First torna-se docente e investigadora da Universidade de Durham. O seu interesse pelo feminismo leva-a a oferecer a esta instituição um curso ligado a estudos sobre mulheres. Enquanto docente em Durham (1973-1978), Ruth ensinou também na Universidade de Dar-es-Salaam, num momento tipicamente fervilhante que marcava as ciências sociais nesta instituição de ensino superior e estabeleceu os primeiros contactos com Maputo, por alturas da independência de Moçambique.

 

A oferta que lhe foi feita por Aquino de Bragança, então diretor do  Centro de Estudos Africanos (CEA), para assumir o posto de directora de pesquisa do Centro, em 1977, depois de ter dirigido a pesquisa sobre o mineiro moçambicano, que produziu um clássico sobre a exportação da mão-de-obra de Moçambique para a África do Sul, pareceu-lhe irrecusável, já que esta era uma oportunidade única para estar mais perto do seu país natal. Comentando sobre a aceitação de Ruth First à proposta de trabalho que lhe foi feita por Aquino, Alpheus Manghezi, comentava anos mais tarde:

Acredito firmemente que para Ruth, aceitar um novo posto de trabalho em Maputo, significava um regresso a casa do “exílio intelectual e político”, e poder continuar directamente, a uma escassa distância, com o trabalho intelectual e académico ao qual se havia dedicado e no qual estava profundamente envolvida, antes de partir para o exílio

 

Afinal, o seu trabalho em Moçambique era visto por Ruth como uma visualização da luta pela libertação da África do Sul, já que ela e Aquino de Bragança concebiam a luta pelo desenvolvimento de Moçambique intrinsecamente ligada a um contexto regional economicamente dominado pela África do Sul, que era necessário compreender para encontrar alternativas.

 

Desligada dos seus compromissos profissionais no Reino Unido, Ruth First assume em 1978 o posto de directora para a pesquisa do Centro de Estudos Africanos, na Universidade Eduardo Mondlane, lugar que ocupa até à sua morte, em 1982.

 

Cartaz produzido pelos estudantes da UEM e distribuído largamente 

 

A sua vinda para Moçambique ocorreu num momento especial de transição política e de novos desafios no plano económico, político e social. Era também um período desafiante para as ciências sociais na reconstituição dos seus objectivos, métodos e práticas, colocados por uma universidade que assumia uma nova face, depois da independência nacional. Mas era também um período tenso, na luta entre a imposição de um marxismo dogmático e a criação e introdução de um espírito crítico e analítico acompanhado de metodologias participativas de ensino e pesquisa, onde passou a destacar-se o protagonismo do Centro de Estudos Africanos, no processo de mudanças.

 

Com uma equipa de excelentes docentes e investigadores provenientes de renomadas universidades, e em estreita colaboração com Aquino de Bragança, Ruth First participou na formação de quadros nacionais e deu um imenso contributo à reflexão sobre o papel das ciências sociais no processo de reconstrução do país.

 

O Curso de Desenvolvimento introduzido no Centro de Estudos Africanos, reflecte o projecto criado por Ruth First e Aquino de Bragança sobre a necessidade de formar quadros teoricamente preparados, mas capazes de encontrar soluções alternativas para problemas concretos. A associação permanente entre ensino e pesquisa e a compreensão das práticas através de estudos empíricos marcou a formação pós-graduada em estudos de desenvolvimento. Os estudos então realizados com a chancela do CEA ilustram as imensas interrogações que os cientistas sociais se colocavam a si próprios, ou que lhes eram colocadas pela sociedade e pelos políticos. O estudo pioneiro sobre o Mineiro Moçambicano espelha melhor que qualquer obra, a necessidade de quebrar as barreiras disciplinares no campo das ciências sociais e um olhar sobre Moçambique no âmbito de um contexto regional. Outros estudos realizados no CEA, sobre a economia, aspectos sociais, relações internacionais e política regional podem ser considerados marcos importantes na história das ciências sociais em Moçambique, para além de retratarem uma instituição de pesquisa onde se buscava uma epistemologia emancipatória.

 

Ruth acreditava com paixão que as metodologias de trabalho introduzidas no CEA deveriam produzir mudanças não só no campo das ciências sociais, mas também junto aos fazedores de políticas. Ela afiançava que o lugar do pesquisador social deveria ser onde havia necessidade de procurar alternativas viáveis para problemas concretos, superando as falhas das políticas públicas.

 

A imensa rede de contactos internacionais de Ruth, o seu permanente espírito crítico, a qualidade das suas análises e seu sentido de justiça, se por um lado lhe granjearam respeito, por outro lado também lhe criaram alguns dissabores, várias vezes exemplificados pelos seus camaradas e colegas nos escritos sobre a sua vida e obra. No campo pessoal, ela era conhecida pela sua elegância, simplicidade, uma extraordinária sensibilidade, generosidade e lealdade em relação aos seus amigos e uma pessoa muito segura de si. No entanto, como referia Ronald Segal, num tributo à sua memória:

Ela era fascinantemente cheia de paradoxos; parecia menos preocupada com os riscos da sua segurança do que com o seu penteado; com uma extraordinária capacidade de comando e debate, mostrava-se tímida e insegura em reuniões privadas envolvendo pessoas desconhecidas.

 

As muitas biografias de Ruth First dão um forte destaque à sua vida como activista política e jornalista, ficando menos visível a sua actividade intelectual. Refira-se entre parênteses, que segundo seu amigo Ronald Segal, ela não gostava de ser apelidada de intelectual. O seu trabalho de pesquisa científica foi no entanto marcado por um profundo rigor, onde as suas publicações tinham sempre a preocupação de dar voz aos protagonistas históricos. A linha do seu trabalho não poderia ser melhor ilustrada que pelas palavras de Pallo Jordan que ao falar da produção intelectual de Ruth First, refere que este é marcado pela sua longa experiência jornalística, e pela sua permanente insistência nas evidências empíricas para consubstanciar o quadro teórico.

 

Ainda sobre o seu perfil como académica, Gavin Williams, amigo pessoal de Ruth, assegura-nos que ela tinha mais perguntas do que respostas, e que as suas respostas eram de qualquer modo o despoletar de novas questões, havendo sempre necessidade de saber mais e de fazer mais. Williams sublinha ainda que para Ruth, era fundamental ensinar os seus estudantes a formular correctamente as perguntas.

 

Numa homenagem prestada pelo Centro de Estudos Africanos em 2007 a Ruth First, Fernando Ganhão, primeiro Reitor da Universidade Eduardo Mondlane, recordava Ruth com as seguintes palavras:

Ruth First não foi apenas uma investigadora que veio [para a UEM]. Ela tinha consciência [do seu papel]. E eu disse-lhe muitas vezes que deveria criar os fundamentos para uma escola de ciências sociais em Moçambique (…). O pensamento dela era simples, mas era profundo: Ciência para o Desenvolvimento, o que resumia o que era o projecto de Ruth First. Era rigorosa e intransigente e muitas vezes a intransigência dela incomodava muita gente (…). Ruth First é para nós uma referência, hoje (…). Nos meados dos anos 70, quando a intelectualidade marxista estava em crise (…) ela continuava a usar os instrumentos intelectuais do marxismo, mas tinha consciência que a prática da sua aplicação tinha sido um fracasso, sobretudo nas Ciências Sociais (…). Mas foi nesses limites que trabalhámos e que ela criou uma geração de intelectuais que são hoje o suporte intelectual da investigação em ciências sociais em Moçambique. É a glória dela, por isso penso que lhe devemos estar reconhecidos. Eu particularmente, tenho uma grande admiração por ela.

 

A análise brilhante e profunda dos acontecimentos, a constante problematização e o sentido do contexto apropriado para cada situação, caracterizaram o trabalho de Ruth First. Ela foi sempre um modelo de atitude crítica, analítica e sistemática, na prática de investigação. Estes foram também legados deixados por Ruth First à geração dos então jovens moçambicanos, que tiveram o privilégio de ser seus estudantes e seus colaboradores, no Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane.

 

Vários testemunhos ilustram que Ruth considerou os seus anos de Moçambique, como os melhores de sua vida. Mas a 17 de Agosto de 1982, a sua voz foi silenciada. Para Ronald Segal, o seu bárbaro assassinato significou “um acto final de censura”  do regime do apartheid no poder.

 

Falar de Ruth First, como o demonstra o seu roteiro de vida, é falar de um vulto intelectual e académico do mais subido quilate, a quem muito devem o mundo científico, em geral, e o das Ciências Sociais e da Sociologia contemporâneas, em particular.

 

Homenagear e exaltar ao mesmo tempo a figura da professora e investigadora esclarecida que foi Ruth First, uma cidadã da África Austral, se por um lado é um reconhecimento que lhe é feito pelo Centro de Estudos Africanos pelo contributo prestado à produção de conhecimento e introdução de metodologias inovadoras, no ensino e pesquisa na área de ciências sociais, é por outro lado uma honra para a Universidade Eduardo Mondlane, promover este acto, também de reconhecimento da sua estatura política e intelectual.

 

Se esta cerimónia de atribuição de um Doutoramento Honoris Causa marca a celebração especial de um trajecto individual e constitui a verificação e reconhecimento públicos de um saber e experiência únicos, ela celebra ao mesmo tempo a Universidade Eduardo Mondlane que soube reconhecer no presente, o legado deixado por Ruth First, celebrando simultaneamente a frutificação dos seus ensinamentos deixados às novas gerações, pelo seu exemplo e dedicação.

 

Rogo-lhe por isso, Magnífico Reitor que seja atribuído o Doutoramento Honoris Causa em Sociologia, em memória póstuma, a Heloise Ruth First, e que sejam colocadas as respectivas insígnias doutorais à representante da família aqui presente entre nós, sua filha, Gillian Slovo.

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Colin Darch, em seu site Mozambique History Net, informa que em uma entrevista publicada em 1989, a filha mais velha de Ruth First, Gillian Slovo, disse: ‘She changed in Mozambique; she softened. I think she belonged in Mozambique in a way that she never belonged to England. It was her home, and she meant something to that society, to those people’.


 

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