- Corpos e sexualidade
Os Bens Comuns são reservatórios de riquezas e de saberes que precisam ser cuidados por pertencerem a uma comunidade, um grupo. Terra, água, florestas, o ar e a biodiversidade são os exemplos mais comuns da materialidade da riqueza dos Bens Comuns. Igualmente ricos, os saberes incluem conhecimentos, valores e práticas herdados de ancestrais que devem ser repassados para as gerações futuras. Por trazer, na sua essência, uma relação de posse compartilhada, por não serem mercadorias, portanto, não comercializáveis, os Bens Comuns desafiam o conceito de propriedade privada.
O objectivo deste eixo é ampliar o conhecimento sobre as formas de preservar os Bens Comuns como frente de resistência à imposição do modelo neoliberal de privatização de todas as esferas da vida social e natural e destruir e apagar os saberes ancestrais. Tem como objectivo principal trocar experiências sobre como cuidar dos Bens Comuns para que se fortaleçam as comunidades no enfrentamento das imposições predatórias dos organismos financeiros internacionais.
6. Paz e desmilitarização Uma das maiores ameaças que a humanidade enfrenta é o aumento generalizado das despesas militares e o desenvolvimento de técnicas de controlo e vigilância para servir os propósitos da Guerra Global contra o Terrorismo. A obsessão pela chamada securização das sociedades impera à escala planetária e o discurso bélico consolida a imagem do inimigo que está em todo o lado desumanizando as pessoas. Por isso são tão importantes os projectos que fortalecem os vínculos comunitários, de confiança mútua, cuidado e afectos que possam contribuir para reverter os impactos do discurso do medo que traz consigo o retrocesso no que respeita a direitos fundamentais das pessoas. É necessário, pois, analisar a partir de um olhar feminista os impactos da militarização para que haja uma verdadeira transformação das relações internacionais e da ideia de segurança humana. Por estas razões, neste eixo temático queremos reflectir sobre as alternativas e outras abordagens sobre paz e segurança, tais como: segurança humana, segurança energética, segurança climática, reconciliação, desmilitarização. Neste eixo temático do MM2022 pretendemos ampliar as propostas existentes que realizam uma Cultura de Paz que tem no seu centro a sustentabilidade da vida. 7. Terra, Extractivismo e Mudanças Climáticas A despeito da narrativa corrente de que problemas ambientais se fazem sentir universalmente, o MM2022 convida todas e todos a reflectir acerca das maneiras singulares pelas quais tais questões afectam e implicam sujeitas/os marcadas/os por género. No Sul Global, esta relação imbricada adquire novos contornos quando se coloca em relevo a experiência do colonialismo e da colonialidade, que se actualiza por meio do neoextrativismo predatório, do landgrabbing (usurpação de terras) e de projectos desenvolvimentistas, entre outros, cujas relações de exploração da terra e das comunidades resultam em situações de injustiça e de conflitos ambientais. A inevitabilidade das mudanças do clima também pode ser um convite a problematizar quais corpos e lugares são mais propensos a experimentar os efeitos de eventos extremos, como enchentes, furacões e outros desastres ambientais e as dificuldades quotidianas, como por exemplo, o acesso à água potável). Neste sentido, consideramos que discussões que dêem conta deste necessário entrelaçamento entre questões ambientais e de género (e suas intersecções com raça, classe, etnia e geração) podem contribuir para uma melhor compreensão dos actuais processos de resistência, lutas políticas e da busca por alternativas sistémicas à exploração da natureza e dos sujeitos. Por isso, neste eixo, são bem-vindas propostas de Oficinarias, que coloquem em diálogo a questão ambiental e suas articulações com a vida das populações, em geral e com a das mulheres, em particular. Encorajamos pesquisadoras e pesquisadores dos variados campos de conhecimento, bem como integrantes de movimentos sociais e/ou outras associações da sociedade civil, a compartilharem connosco suas reflexões teóricas, resultados de pesquisas (concluídas ou em andamento), dilemas metodológicos e/ou relatos de experiência e mobilização. 8. Género, Língua e Poder As conexões entre género e linguagem nas práticas sociais estão implicadas nas relações de poder, na produção e reprodução de valores e nos conflitos políticos e violências resultantes delas em diferentes comunidades. Assim, género funciona, desde distintas perspectivas, como uma categoria de análise relevante tanto para o estudo de fenómenos linguísticos quanto para uma compreensão teórica de como distintas culturas apresentam diferentes interpretações sobre eles. Analisar tal categoria nas pesquisas em linguagem não prescinde de um olhar mais atento sobre o poder patriarcal, colonial e capitalista, sobre o sexismo, o heterossexismo, o elitismo, o racismo, entre outras questões. Para tal, podemos partir de alguns questionamentos, tais como: de que maneira as mudanças no papel contemporâneo das mulheres e das relações de género causaram modificações teórico-metodológicas nos Estudos de Linguagem? Qual a pertinência da perspectiva interseccional – que articula género, raça e classe – para tais estudos? Como transformar os paradigmas de conhecimento coloniais e patriarcais no âmbito de uma ciência afrocentrada e crítica na cooperação Norte/Sul e Sul-Sul? Como os saberes e fazeres das mulheres africanas (também na diáspora) podem permear as epistemologias e metodologias de pesquisa sobre linguagem e poder? Portanto, este Eixo Temático objectiva reunir investigações sobre o papel da categoria género nos estudos da linguagem e da literatura no âmbito dos interesses da Teoria e Análise Linguística, da Sociolinguística, da Política Linguística, da Análise do Discurso, da Antropologia Linguística, da Literatura, da Tradução e áreas afins. 9. Utopias feministas concretas Apesar das conquistas alcançadas pelas mulheres rumo à igualdade de direitos, sabemos que ainda estamos longe de erradicar a subordinação e a opressão delas. Além disso, as mulheres continuam a ser responsabilizadas pelas gravidezes não planificadas, pelo cuidado das crianças, pelo estupro e assédio de que são vítimas e por todo o tipo de violências que sofrem seja dos seus cônjuges ou das diversas instituições políticas, culturais, religiosas, económicas misóginas existentes em suas sociedades. Muitas das soluções já propostas pelas políticas de agências internacionais, governos ou até das organizações da sociedade civil são descontextualizadas e, por isso, acabam excluindo muitas mulheres que não se reveem nelas nem as entendem. É neste contexto que neste eixo pretendemos promover um espaço de reflexão política feminista, de baixo para cima e de ensaio de mundos alternativos e radicais, capazes de libertar as mulheres do hetero-patriarcado, das novas formas de colonialismo, do racismo e do capitalismo contemporâneos. Queremos ser um espaço de transgressão, debate e de imaginação de mundos de mulheres que desafiam, com ousadia, todas as violências, todas as injustiças, todas as normas que impedem as mulheres de serem felizes, livres e emancipadas. 10. Imaginários sociais, corredores de opressão e emancipaçãoFoto: https://www.facebook.com/desenvolvendosaberessobreaafrica/O objectivo desse eixo temático é reunir reflexões sobre a convivência entre a chamada “tradição” e a “modernidade” – no campo do activismo, da arte e da academia, de modo a dar visibilidade às produções de saberes outros que emergem das práticas quotidianas, das experiências vivas das vidas das mulheres que comummente são subalternizados, periferizados e descentrados dos lugares hegemónicos de produção de conhecimento. Um espaço para olhares sobre essas temáticas que tragam as controvérsias, as ambiguidades, os paradoxos, a perspectiva (des)binarizada do mundo; o deslocamento de perspectiva, o desassossego epistémico, as lutas e resistências de contextos que existem e (re) existem, produzindo e reproduzindo as suas vidas com pensamentos e lutas que reinventam o quotidiano. Perspectivas que tragam as diferentes culturas, os olhares narrados em primeira pessoa, com as pessoas (e não sobre as pessoas), visibilizando diferentes modos de pensar e questionando as análises do senso comum e da produção objectificada, produzindo alternativas teóricas, metodológicas e de intervenção social e cultural.